JOSÉ PAULO DE MEDEIROS - TENENTE ZUZA PAULINO
Mas
de todos os filhos de Paulino e de Josefa, sem dúvidas alguma, José Paulino de
Medeiros foi o mais falado e mais conhecido nos cantos e recantos do estado e
do país. Era oficial da Polícia Militar, ficando mais conhecido com o nome de
Tenente Zuza Paulino.
Após a Revolução de 30,
Getúlio Vargas nomeou, em 2 de agosto de 1933, Mário Câmara, seu oficial de
gabinete na presidência, para ser o primeiro civil e potiguar a assumir a
Interventoria Federal no Rio Grande do Norte, com a específica missão de
preparar o terreno para dar ao Governo Vargas a vitória nas eleições de 1934,
para Assembléia Estadual Constituinte.
Nessa época, Zuza Paulino era
apenas um Guarda Civil. Mas aos poucos se tornou partidário fiel e exaltado do
governo Mário Câmara, que logo lhe nomeou, através do Ato nº. 677 de 11 de
agosto de 1934, como Delegado Especial da Fronteira para ser o comandante da força
policial e tomar conta da zona serrana do estado nas eleições de 14 de outubro
de 19345, quando os oposicionistas e conservadores, representados
pelos populistas e liderados pelo oligarca José Augusto, do Partido Popular, o
maior do estado, enfrentaram os situacionistas que compunham a Aliança Social,
chefiada pelo interventor Mário Câmara, do PSD, pelo advogado Café Filho, do
PSN, e apoiada pela Aliança Liberal do Presidente Getúlio Vargas. Esta foi uma
das eleições mais violentas da história do nosso país e do nosso estado. Zuza
Paulino ameaçou, perseguiu, espancou, assassinou e mandou fazer tropelias com
vários inocentes do interior, apenas por serem adversários políticos. Ao final
das eleições, conduziu e violou as urnas até Natal, fato que o tornou conhecido
nacionalmente ao aparecer em 28 de novembro de 1934 na segunda página do Gazeta
de Notícias, jornal do Rio de Janeiro. Toda essa violência fez o Superior
Tribunal Eleitoral decretar a nulidade de várias secções eleitorais e a
realização de eleições suplementares. O Partido Popular de José Augusto fez
maioria em quase todos os municípios do estado, mesmo com tanta crueldade
empregada pela situação.
Derrotado
em praticamente todo o estado, Mário Câmara pôs em prática o plano de subverter
a ordem no estado para impedir que o candidato do Partido Popular, Rafael
Fernandes, assumisse o governo, ao não permitir a instalação e funcionamento da
Assembléia Estadual Constituinte, onde estava em minoria. Assim, nove dias após
as eleições, Mário Câmara nomeou, através do Ato nº. 708 de 23 de outubro de
1934, Zuza Paulino, ate então Inspetor da Guarda Civil, para ocupar o cargo
comissionado de 2º Tenente da Polícia Militar, em reconhecimento às atrocidades
cometidas pelo seu fiel escudeiro na eleição5. Em todo o governo de
Mário Câmara, o patibular Tenente Zuza, acompanhado de seus policiais, uma
verdadeira horda de jagunços criminosos, teve ação destacada e brutal. Daí pra
frente o que houve foi muita truculência em toda a capital e o interior do
estado! Houve quem afirmasse ter visto o Zuza Paulino atirar num cabo e acertar
numa criança que caiu morta ao lado deste. Na tarde de 29 de novembro de 1934,
na mais freqüentada rua de Natal, o Tenente Zuza Paulino e seus sequazes
policias, todos bem armados, invadiram e depredaram o prédio da redação e das
oficinas do jornal “A Razão”, escorraçando com violências e ameaças as pessoas
que lá encontrou no exercício do seu ganha-pão6. Em 24 de janeiro de
1935, Zuza Paulino invadiu a casa do diretor desse único jornal oposicionista
que ainda circulava, Eloy de Souza. Com o boné no alto da cabeça, dois
revólveres à cinta, dólmã desabotoado, fisionomia de ébrio, voz rouca de
encachaçado, disse-lhe o oficial no berro característico de tal estado: Entrei
aqui para avisá-lo de que se escrever o meu nome mais uma vez naquele seu papel
d“A Razão”, virei aqui quebrar-lhe a cara de verdade!7
Zuza Paulino parecia ter
encarnado o quase lendário personagem fanático do seu avô Capitão Manoel
Baptista de Araújo Júnior, forçudo veterano de guerra por ter incorporado o
“batalhão dos patriotas” que combateu no Ceará o movimento sedicioso de Joaquim
Pinto Madeira, coronel de nacionalidade portuguesa que não reconhecia a
abdicação de D. Pedro I. Dizem que sua espada era a mais afiada, tamanha a sua
eficiência nos combates3. A cada ato de selvageria cometida pelo
Tenente Zuza Paulino, mais Mário Câmara lhe gratificava com atos executivos: Em
6 de setembro de 1935, o 2º Tenente comissionado Zuza Paulino, foi efetivado
nesse posto, ao ser promovido a 1º Tenente e, dias depois, a Capitão após ter
sido nomeado8, através do Ato nº. 1.615 de 14 de outubro de 1935, no
cargo comissionado de 2º Delegado Auxiliar da Capital, se tornando o
responsável pelo policiamento de Natal, função até então exercida somente por
bacharéis. Com essa situação de perigo e sem garantia alguma de segurança, os
deputados constituintes eleitos pela oposição se refugiaram na Paraíba5.
Inutilizado para o seu serviço ativo, o Tenente Zuza foi
reformado da Policia Estadual sem a promoção a que tinha direito por ter se
ferido em defesa da legalidade, contrariando à letra expressa da lei11 e ainda foi recomendado às autoridades federais como
perigoso comunista. Porém, o governo federal o premiou14. Zuza carregou para o resto da vida o estigma da falta de um
braço e as chagas dos atos deprimentes cometidos por ele nos ominosos tempos da
interventoria, acusação esta que foi obrigado a ouvir de seu ex-comandante, um
sargento que o desacatara num cabaré, zona do meretrício em Natal, onde Zuza
travou-se de razões com ele, apenas um ano e meio depois da tragédia, em 10 de
Julho de 19366. Abandonou o seu estado e fixou residência em Mato Grosso,
onde anos depois foi assassinato com uma bala desferida, pelas costas, por um
antigo inimigo seu. Era casado com uma mossoroense e foi o pai de Lourival
Guerra, uma espécie de brigão-guerreiro.
FONTE – AREIA BRANCA ONTEM,
HOJE E SEMPRE